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Humor, ironia, estratégia e conquista


           O portador de tão grande talento é gaucho, de Porto Alegre. Nascido no dia 26 de setembro de 1936 é filho do grande escritor Érico Veríssimo. Luis Fernando assim designado é jornalista além de um grande escritor, que nos fascina com suas crônicas e seus contos, sem contar com seus tantos outros trabalhos.
            Veríssimo iniciou seus estudos no Instituto Porto Alegre, mas passou por escolas estadunidenses no período em que morava lá, retorna aos Estados Unidos com 16 anos e lá conhece a música, se apaixona pelo saxofone e continua tocando até hoje.
            Luis inicia sua carreira como jornalista no Jornal Zero Hora, em Porto Alegre, no ano de 1996. Começa como copydesk, depois passa a ser redator, editor nacional e internacional. Passa a escrever matérias assinadas no ano de 1969, e logo após em 1970 muda-se para o Jornal folha da Manhã, em 1975 retorna ao Jornal Zero Hora, o sucesso de sua coluna no jornal traz resultados e Veríssimo publica assim seu primeiro livro A Grande Mulher Nua que é uma coletânea de seus textos.
            Baseado em uma obra sua foi gravada a série da Rede Globo Comédias da vida privada, além de ter criado quadros para o programa Planeta dos Homens.
            Dono de muitas obras entre elas estão: O Popular, A Grande Mulher Nua, Amor Brasileiro, As Cobras e Outros Bichos, Pega pra Kapput!, "Procurando o Silva", "Disneyworld Blues", "Com a Mão no Milhão", "A Conexão Nazista", "O Seqüestro do Zagueiro Central", O Jardim do Diabo, Pai não Entende Nada, Peças Íntimas, O Santinho, Zoeira, Sexo na Cabeça, O Gigolô das Palavras, A Mão Do Freud, Orgias, As Aventuras da Família Brasil, O Analista de Bagé, O Analista de Bagé em Quadrinhos, Outras do Analista de Bagé, A Velhinha de Taubaté, A Mulher do Silva, O Marido do Doutor Pompeu, A Mesa Voador.
         Grande profissional, escritor de crônicas hilárias e principalmente reflexivas. É pai de três filhos e marido de Lúcia.
         Não poderia deixar de expor a minha opinião quando se fala de um escritor inteligentíssimo, que sabe usar o humor a ironia de forma estratégica e dessa forma consegue conquistar qualquer tipo de leitor. Suas crônicas e seus contos são maravilhosos, valem muito à pena!

Vitória Nunes

A seguir uma descrição do próprio:

O gigolô das palavras
Luis Fernando Veríssimo
         

 Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa (“Culpa da revisão! Culpa da revisão !”). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.
Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer “escrever claro” não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover… Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.
Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas – isso eu disse – vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.
Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa ! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.


                    
       

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